domingo, 24 de novembro de 2013

"Venha preparado, ou não venha de jeito nenhum"



Com esta frase, a Ministra Luiza Bairros abriu a III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, CONEPIR, no dia 06 de Novembro.
O que significa estar preparado? 
Fazer o melhor que podemos não é o suficiente para nós. 
Em geral percebemos isto ainda cedo e tentando encontrar um caminho cada vez mais firme para este entendimento, vamos deixando mais evidenciado o sentimento de que nada será o bastante em momento
algum.
Muito embora tenhamos como alento os ensinamentos derivados das práticas religiosas que professamos, quer seja na matriz africana, preservada por sua oralidade: “O TEMPO DÁ, O TEMPO TIRA, O TEMPO PASSA E A FOLHA VIRA.”   
Ou, naquela que aprendemos a conhecer através do processo de colonização, de matriz ocidental cristã, escrita nos livros bíblicos como em Eclesiastes 3:01: “TUDO TEM O SEU TEMPO DETERMINADO, E HÁ TEMPO PARA TODO  O PROPÓSITO DEBAIXO DO CÉU.”
Muitas vezes deixamos nos conduzir pela sensação de que ainda não nos firmamos como nação, por ceder aos impulsos estabelecidos a partir daquilo que separa e que alimenta diariamente o ódio e as intolerâncias, não somente da sociedade excludente de uma única cor, mas também pela ambição e sede de ocuparmos os poucos lugares destinados a nós, mesmo em detrimento das conquistas sociais mais permanentes que os novos discursos acadêmicos estabeleceram como políticas públicas.
Ouvir é uma das formas de assimilar, transmitir e reproduzir pensamentos e conhecimentos, muito embora não valorizemos tanto quanto deveríamos aqueles que historicamente vieram antes de todos os outros. 
A verdade absoluta sobre o tempo é sua perseverante maneira de demonstrar a circularidade presente no âmago de todas as nossas ações. Então voltamos ao início de tudo, apresentando a força e a luta das mulheres negras em nossa sociedade, cujo trabalho incansável amamentou, criou e educou; limpou, cuidou e preservou; rezou, zelou e dignificou a filosofia, a cultura e as pessoas que delas se serviram. Precisaram, usaram, abusaram e a seguir desqualificaram em um poderoso processo de violência, invisibilidade e negação de direitos. 
Ainda que o tempo possa corrigir distorções e injustiças, homenagens póstumas precisam ser cada vez mais raras, porque as verdadeiras homenagens devem ser feitas agora, porque são o verdadeiro PRESENTE. 
Assim o JORNAL AFROLAGOS está de volta, ainda que virtualmente, mas preparado para  contribuir, trazendo sempre INFORMAÇÃO, EMPREENDEDORISMO e POLÍTICA semeando a TRANSFORMAÇÃO.
 Não somos, tradicionalmente, o público alvo das demais mídias, um motivo relevante para estamos preparados para fazermos nós mesmos a nossa mídia. Asé!

Momentos de Reflexão e Ação



Os povos de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, vivem um momento de extrema tensão social, criada pelo fenômeno histórico da “intolerância religiosa” que deflagram conflitos entre membros de  denominações religiosas “neo petencostais” e os praticantes dessas religiões. Perseguição e agressões muitas vezes impulsionada por  uma mídia agressiva em relação as praticas religiosas afro-brasileiras, orisás e entidades cultuadas nas  casas de santo ou Asés tem sido observadas em crescente ascensão.
Com isto, governo e sociedade civil, através dos Movimentos Negros, passaram a dialogar exaustivamente sobre as formas de construção de uma rede de proteção ao direito desses povos exercerem sua liberdade de culto e crença, sem serem ofendidos ou discriminados.
Não obstante, entender o que possibilitou a resistência de práticas, rituais e ensinamentos desses povos e comunidades religiosas, não se encontra em livros e materiais escritos, muito embora haja nos dias atuais uma farta oferta de documentários, livros, revistas e imagens sobre as diversas religiões de matriz africana. Programas sobre a fé e práticas religiosas exibem belas imagens. Muitas delas têm nas memórias religiosas dos povos africanos que foram trazidos para Brasil durante o tráfico transatlântico seu ponto de convergência.
Mas o mundo globalizado alterou formas de educar filhos, ensinar nas escolas, construir relações sociais e estabelecer a diplomacia no universo da política internacional, mas nos terreiros de candomblé, foco de nosso trabalho, o tempo não existe, valores econômicos e sociais externos não importam e o respeito aos mais velhos, seu saber e conhecimento é o maior tesouro.
É o awô. O segredo, o mistério. O que não pode ser aprendido senão pela prática e pelo saber oral, transmitido por aqueles que o detém e o aprenderam da mesma forma: pelos mais velhos.
Em uma sociedade descartável, efêmera e preocupada com a permanente atualização por novas tecnologias e aprendizados, em que os mais velhos são destinados ao não fazer da aposentadoria, não por defasagem do saber e ineficácia das experiências vividas, mas por necessidade de abrir espaços para os mais novos, conhecer, entender e refletir sobre os povos que valorizam o saber ancestral transmitido oralmente e perpetuado ao longo dos séculos é valorizar todo o processo vivenciado pela a humanidade até os dias atuais.
Imaginar que todo o conhecimento da humanidade pode ser apagado por interesses e espionagens, para preservar o poder da dominação de alguns países é perceber que de nada nos adiantará tanta pressa, compromissos e horários. Somos apenas peças descartáveis de uma grande engrenagem global.
Os novos momentos são de muita reflexão, diálogo, entendimento e ação, para que possamos nos organizar em rede com as demais comunidade tradicionais e formarmos um só povo capaz de superar os novos desafios que são apresentados.
Encontro de Juventude de Terreiros organizado pela RENAFRO

"Zelinda de Oyá, dos mais velhos para os mais novos" LANÇAMENTO



Documentário 
 Zelinda de Oyá, dos mais velhos para os mais novos”, é um documentário sobre a importância da transmissão do conhecimento oral na religião de matriz africana, conhecimento este que resiste na religião através dos mais novos, pelo aprendizado vindo dos mais velhos. Com a simplicidade demonstrada pelos praticantes da religião, é possível perceber a resistência do respeito e valorização dos mais velhos no âmbito de uma comunidade religiosa de matriz africana. O trabalho tem como motivo a realidade de Dona Zelinda Esteves, Zelinda de Oyá, praticante do candomblé e que foi iniciada  ainda na juventude, mas que permanece firme em suas convicções religiosas, praticando-a aos 95 anos de idade e seu  encontro com a Yalorisá Fátima de Oxosse e  praticantes do candomblé da nação Ketu do Ile Ase Omo Ode Igbo. Dos momentos do cotidiano de um terreiro de candomblé, a forma como o conhecimento vai sendo transmitido com carinho por Dona Zelinda aos mais novos.
Dentro dessa perspectiva o documentário apresenta o candomblé para além das questões rituais e filosóficas, traduzidas pelo amor e dedicação de seus praticantes a este modo de vida.

Concepção, Roteiro e Direção
O Documentário é realizado pelos ativistas Manoel Justino da Silva filho, escritor, poeta e sobrinho de Zelinda de Oyá; e Margareth Ferreira, advogada e produtora de eventos. Ambos,  iniciados  no candomblé atuam na defesa da liberdade de crença.

Objetivo
O objetivo do trabalho é contribuir para a visibilidade, o reconhecimento, a valorização e o respeito a diversidade socioambiental e cultural dos povos e comunidades tradicionais levando-se em conta, dentre outros aspectos, os recortes de etnia, raça, gênero, idade, religiosidade, ancestralidade, orientação sexual e atividades laborais, entre outros.

Desafio
Proporcionar a reflexão sobre a necessidade de valorização dos saberes tradicionais, ancestrais e não formais  é o grande desafio.

Juntos contra o Racismo


Iniciativas como a da Produtora Luciana Branco, fortalecem a luta contra a discriminação e a intolerância, contribuem para demonstrarmos que o mundo melhor depende de todos e todas.
A luta pela promoção da Igualdade Racial não é somente de negros e negras, mas de toda a sociedade.