segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

RETROSPECTIVA 2014 ou “The End”

“E no final, o amor que você recebe é o mesmo que você dá.”

Simples assim e exatamente como são todas as coisas capazes de nos fazer dar aquela respirada profunda e usufruir de um sentimento de paz silente e deliciosa.

E, mesmo sendo eu, daquelas pessoas que gostam de trocadilhos e frases de duplo sentido, sempre com aquele libertário prazer de transpor a hipocrisia dominante, não consigo fazer uma piadinha com essa frase tão profunda, na verdade é parte da música dos The Beatles com o nome “o fim”, porém somente notabilizada em minha vida pela tatuagem lateral no corpo de minha filhota.

Sinto que chego ao limiar de minha maturidade ainda com a leveza ideológica da crença e querência de poder mudar o mundo... É de rir de mim mesma...

Mas, já amolecida por muitas emoções e o choque de realidade de minha própria vida, além da observância superficial da vida alheia, através de uma janela indiscreta, seletiva e permissiva, das redes sociais vou praticando uma coisa chamada auto crítica. Só quero respeito e silêncio. Sou capaz de brigar e fazer muito barulho por isto. Que contradição!

Tenho absoluta certeza de que depois de minha iniciação ao candomblé fiquei mais condescendente e tolerante e lembro que na Sutra Sagrada “Chuva de Néctar da Verdade” , que conheci na Seicho No Ie,  tinha uma frase que me massacrava quando a hipocrisia social me fazia ser gentil e educada: “ser tolerante ou se condescendente não significa estar em harmonia do fundo do coração”. Mas, como dizem os meus mais novos #sóquenão ...

Minha tolerância candomblecista é tão suave e agradável quanto é a condescendência de olhar nos olhos de quem me agride e pensar que suas atitudes têm respaldo nos valores que aquela pessoa vem  carregando, desde o nascimento. Nas necessidades dela e em sua forma de ver o mundo; nas escolhas que ainda não aprendeu a fazer; em sua percepção do lugar que ocupa nesta existência; ou mesmo na crença de haver outras tantas e tantas existências; em seu mundo... no amor que recebeu.



E mesmo nos momentos em que a desarmonia me domina e quer me controlar novamente me tornando egocêntrica e beligerante,  vem meu pai Sangó...  Ele toma conta do meu sentir e pensar; ver e falar; mover e parar. E quando se vai consegue levar para longe todos aqueles sentimentos de mágoa, rancor e ódio, me harmonizando total e suavemente.

O resumo do meu sentimento está inserido na frase inicial que mesmo em sua perfeição absoluta e energética nos parece tão simples.

Nesta retrospectiva, que é feita a partir de um conjunto de saberes, fazeres e olhares, descobri que minha harmonia e paz interior é acompanhada por muitas outras pessoas de diversas moradas espirituais. Exatamente, como já vem sendo dito, repetido e Bendito há milhares de anos, por diferentes ancestrais e em muitos idiomas, inclusive em mandarim, jeje, nagô e aramaico.  Isto não tem arrogância capitalista, nem intensão proselitista, apenas a inocência infantil de uma iawo...


O que registro aqui para simbolicamente resumir meu ano de 2014 é o sentido e a visão emblemática de um  “pit stop”. Visto e revisto. Corrigido e ajustado. Calibrado e reequilibrado e volto para pista... Sem pressa ou afobação, pois não estou disputando nenhum grande prêmio... Só estou no páreo... correndo junto e dando suporte. Somos Dessas!



Feliz 2015!!!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Coluna Brasil

Publicado no Jornal Afrolagos Edição nº 2 (Novembro/Dezembro de 2011)

Comissão de Direitos Humanos aprova inclusão de nome indígena ou africano no RG

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias aprovou no último dia 30, projeto de lei que permite aos afrodescendentes e indígenas inserir em suas identidades, sobrenomes de origem africana ou indígena, sejam eles familiares ou não.

A proposta altera a Lei de Registros Públicos (6.015/73), que possibilita a mudança de nome aos maiores de 18 anos.
O texto aprovado é um substitutivo apresentado pelo deputado Márcio Marinho (PRB-BA) ao Projeto de Lei 803/11, dos deputados petistas Nelson Pellegrino (BA), Edson Santos (RJ) e Luiz Alberto (BA), que originalmente beneficiava apenas os afrodescndentes.


“A regra deve também permitir ao índio o acréscimo de nome de ancestrais, a fim de resguardar sua identidade cultural e familiar, guardando simetria com o tratamento dispensado aos afrodescendentes”, justificou Marinho.
O substitutivo de Márcio Marinho também deixa claro que o sobrenome afrodescendente ou indígena será acrescentado ao nome, uma vez que os apelidos de família não podem ser prejudicados. Além disso, o registro civil poderá ser alterado em qualquer tempo, independentemente da maioridade civil.
Fonte: Agência Câmara de Notícias

Pesquisa revela: Religiões afro-brasileiras são vítimas de intolerância no Rio
Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) sobre religiões afro-brasileiras no Estado do Rio comprova denúncias de intolerância religiosa. Dados preliminares do Mapeamento das Casas de Religiões de Matriz Africana, que identificou 847 templos, revelam que 451 - mais da metade - foram vítimas de algum tipo de ação que pode ser classificada como intolerância em razão da crença ou culto.
No Estado com a maior proporção de praticantes de religiões afro-brasileira na população (1,61%), segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas com base no Censo 2010, a pesquisa da PUC-Rio identificou templos em 27 dos 92 municípios fluminenses. A professora Denise Fonseca, uma das coordenadoras da pesquisa diz que embora esses números não represente a totalidade das casas religiosas desse segmento no Estado, o mapeamento é o primeiro a tratar de casos de intolerância religiosa.
A pesquisa foi encomendada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e começou em 2008.  Em fase de conclusão, com a previsão de ser apresentada em 2012, o mapeamento da PUC-Rio também constatou que centenas de templos têm projetos de assistência social. A maioria dá apoio a políticas públicas de distribuição de renda, suplementação alimentar para crianças, desenvolve projetos de educação de jovens e adultos e de saúde.

Cultura e História africanas chegam às escolas públicas 
As escolas públicas vão receber no ano letivo de 2012 livros didáticos sobre a história e a cultura africana e afro-brasileira.  Serão distribuídas obras para alunos da educação infantil ao ensino médio. A proposta dessa iniciativa é proporcionar aos alunos a compreensão do desenvolvimento histórico dos povos africanos e de sua relação com outros povos, a partir de uma visão objetiva do continente africano. O material tem como referência os oitos volumes da coleção História Geral da África. Editada em português graças à parceria entre a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e o Ministério da Educação , a obra completa foi enviada às bibliotecas públicas em 2011. As escolas receberão também dois livros síntese da obra completa da História Geral da África, com conteúdos relacionados à história, cultura, economia, política e arte.                            

A inclusão da temática história e cultura afro-brasileira no currículo da educação básica das escolas públicas e particulares está prevista na Lei 10.639, de 2003.  Além da história da África e dos africanos, o conteúdo deve incluir a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.
Fonte: MEC

Anúncio que retratava Machado de Assis como branco foi retirado do ar por pressão dos Movimentos Negros

Após uma avalanche de protestos na Internet e um pedido formal da SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), órgão governamental, a Caixa Econômica Federal suspendeu a veiculação de uma campanha publicitária sobre os 150 anos do banco onde o papel do escritor Machado de Assis era representado por um ator branco. O comercial criado pela agência Borghierh/Lowe viaja no tempo para mostrar que até os "imortais" foram correntistas do banco público. O problema é que o escritor, fundador da Academia Brasileira de Letras e autor de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" era negro e como tal deveria ser representado por um ator de sua raça/etnia.

Na nota oficial em que anuncia a interrupção da propaganda, a Caixa "pede desculpas a toda a população e, em especial, aos movimentos ligados às causas raciais, por não ter caracterizado o escritor, que era afro-brasileiro, com a sua origem racial".

Além de pedir a suspensão do anúncio, a Seppir encaminhou pedidos de providencias ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e o Ministério Público Federal.



Para Pensar: BLACKFACE  E SITUAÇÕES SEMELHANTES

·        A Rede Globo de Televisão imortalizou a Escrava Izaura através da atriz Lucélia Santos;
·        Ainda na Globo, o seriado sobre  Chiquinha Gonzaga, compositora negra, foi personificada pela atriz Regina Duarte;
·         No filme Garrincha – Estrela Solitária, do cineasta Milton Alencar Junior sobre a vida do grande jogador de futebol, o papel é desempenhado pelo ator André Gonçalves;
·         Em Cabo Frio, em uma das edições do Portinho Boêmio, um conhecido músico, para cantar reagge pintou-se de negro com chapéu de trancinhas no estilo Bob Marley.

      Rosana Batalha
        Jornalista e Produtora de Eventos 
        Diretora do Jornal Afrolagos





























     

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A CASA DO POVO?

Publicado no Jornal AFROLAGOS de Julho/Agosto de 2011
                
No dia vinte e cinco de julho do corrente ano fui convidado pela Doutora Margareth Ferreira, da SUPIR - Superintendência de Igualdade Racial da Prefeitura de Cabo Frio para participar da solenidade comemorativa do Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, na Câmara de Vereadores, reafirmando o seu compromisso com a política de gênero, raça e etnia e com os direitos humanos. Nesse evento homenagearam-se várias mulheres negras com relevantes serviços prestados à comunidade de nosso município, representantes de diversos segmentos de nossa Sociedade Civil Organizada. Casa cheia; plenária diversificada de gênero, raça, credo, pluri partidária, autoridades do executivo e do legislativo. Gente do povo, portadores de necessidades especiais, faixa etária variada, um estrondoso sucesso.
A solenidade transcorreu em um clima de amena fraternidade, mesmo quando as homenageadas em suas intervenções destacavam as humilhações, preconceitos, discriminações e as agressões que sofreram ao longo de suas vidas pelo simples fato de terem nascido negras. Cada discurso uma história, cada história uma emoção; umas mais emocionantes que as outras, uma verdadeira lição de vida. Plateia visivelmente emocionada, lágrimas sorrateiras eram discretamente enxugadas. Uma noite para ficar registrada nos anais da história política de nossa cidade.
Mas como nem tudo são flores, para participarmos desse maravilhoso evento tivemos que enfrentar e vencer alguns espinhosos  obstáculos: logo na entrada ultrapassar um estreito corredor (decorado com belíssimos quadros); o que dificulta a locomoção. Depois uma escada larga e íngreme, quase vertical de degraus curtos (um perigo que representa risco eminente para os visitantes), para finalmente chegar ao plenário. O setor destinado ao povo é acanhado, apertado, com pouquíssimos e desconfortáveis corrediços bancos de madeira.  Para se usar o banheiro é necessário transpor um degrau de uns vinte centímetros, e com um único sanitário.  Ou seja, se para as pessoas que não precisam de atenções especiais já é um tormento, imagina-se o transtorno que é para os idosos e portadores de necessidades especiais participar dessa verdadeira caminhada de obstáculos.
Será que todos esses obstáculos são para evitar o acesso do povo? E então indagamos:

 Por que na casa do povo, o povo tem dificuldade de adentrar?

Coluna AfroTamoios
Fernando Campos, morador de Tamoios e Ativista dos Direitos Humanos.

Paulo Roberto, amante do samba e Diretor Social do Centro Cultural Lagos

* Entrevista concedida em novembro de 2011

 “- Meu caro rapaz... existe o Samba e existe o Carnaval, são coisas distintas. O Samba... ele é fonte de genuína cultura, porém no carnaval orbitam a política, escândalos, celeumas e covardias. Por isso, esta deve ser a prioridade: primeiro vem o Samba e depois o carnaval.” Nei Lopes
Paulo Roberto e Odete Kachorovisk - Centro Cultural Lagos
Esta dica me foi dada pessoalmente pelo baluarte, Nei Lopes, em um jantar alusivo a Semana Teixeira e Souza – Edição 2008.  Reavaliei meus conceitos e mudei minha escala de valores, buscando a cultura do samba. E é nessa busca que trazemos nesta edição o Encontro do Samba, entrevistando seu Diretor Paulo Roberto.

AfroLagos - Quando foi fundado o Encontro do Samba?
Paulo Roberto - O Encontro do Samba tem praticamente dois anos de fundação, e vem tomando corpo dentro de um processo cultural libertário

AfroLagos - Qual era o objetivo de seus fundadores?
Paulo Roberto - Reunir adeptos da cultura do samba que apreciem o samba de raiz, valorizando antigos ícones e ratificando a responsabilidade social com o acervo que nos foi delegado por herança.

AfroLagos - Existe um Estatuto do Encontro do Samba?
Paulo Roberto - Estamos em vias de concluir o Estatuto, o nome será Centro Cultural Lagos, queremos que os objetivos sejam a preservação, o estudo e a valorização do samba a fim de possibilitar a articulação de parcerias num futuro próximo.

AfroLagos - Quais os requisitos e as exigências para se tornar sócio do Encontro do Samba?
Paulo Roberto - Primeiro é necessário a identificação com o projeto, e dentro de uma certa freqüência nos eventos, o adepto será convidado a participar das nossas reuniões, engajando ou não às nossas produções.

AfroLagos - Quando acontecem os eventos do Encontro do Samba?
Paulo Roberto - Quinzenalmente em agendas que são divulgadas a cada encontro. O próximo será no dia 17 de dezembro.  Começando às 17 h, com  o encerramento do ano com chave de ouro.

AfroLagos - Deixe uma mensagem para a Comunidade do Samba da Região dos Lagos.
Paulo Roberto - O samba de raiz faz parte da nossa cultura, e deve ser zelado como patrimônio e cultivado como acervo, por herança como legado para nossa juventude.


Marcia Fonseca, Professora de Dança e Fundadora do Griot

De todos os ritmos oriundos e difundidos pela comunidade afrodescendente, o Jongo é o que trás características mais marcantes e identidade indelével. A coluna aborda o tema dando foco a uma personagem marcante de nossa região. Profissional da área de educação e expoente cultural, Márcia Fonseca foi rebatizada pela sua militância e hoje o AfroSom tem a honra de entrevistar Márcia do Jongo.
Márcia do Jongo em um vicênvia Griot
Afrolagos -  Para Marcia Fonseca, o que é o Jongo?
Marcia Fonseca -É uma forma de culto aos meus, aos nossos antepassados.

Afrolagos - Como o Jongo surgiu na sua vida?                                           
Marcia Fonseca - Comecei desde pequena, por incrível que pareça... fiz balé clássico durante muito tempo, curso profissionalizante, e neste curso havia muitas disciplinas, uma delas era folclore nacional prático e teórico, outra como o  Afro (contemporâneo e de orixá). Foi aí que eu entrei em contato com a cultura brasileira, e me identifiquei com a cultura afro. Conheci o jongo e outras danças e amei !!! Os anos passaram e eu fui para a faculdade de educação física (UFRRJ), tive contato com vários grupos de danças folclóricas e de cultura popular nas minhas andanças acadêmicas... como sou carioca, nascida e “vivida” no Rio, tive a oportunidade de conhecer o mestre Darci, comecei a escutar muita coisa de samba, onde o Jongo ou Caxambu é sempre lembrado. Foi quando eu conheci uma galera do Jongo da Serrinha/Grupo Brasil Mestiço e o Pau da Graúna... e com eles o Jongo, Lundu, Ciranda, Coco, etc.

Afrolagos -   Qual a importância do Jongo na sua história?
Marcia Fonseca - Foi o despertar para várias questões... questões inerentes ao UNIVERSO do Jongo. Fatores históricos, sociais, econômicos, políticos, e por que não dizer, espirituais, importantes para o meu crescimento pessoal e profissional. Uma fonte muito rica de conhecimento que proporciona muita satisfação profissional, ensinando e difundindo-o na rede pública de ensino de Cabo frio, e em Arraial do Cabo com o projeto GRIOT. Entre as diversas manifestações tradicionais, o Jongo é o que mais me sensibiliza, o que mais me faz transcender... Esses fatores mudaram meu rumo profissional, minha história...

Afrolagos -  Em nossa região, como vem sendo tratado o Jongo?
Marcia Fonseca - Poucas pessoas conhecem o Jongo... e na Região dos Lagos menos ainda... Falta TRADIÇÃO. Faltam grupos de Jongo, faltam rodas de Jongo, faltam pesquisas em história do negro na região, suas tradições, costumes, manifestações, etc.  


AfroSom -  Existe algum fato marcante na sua relação com o Jongo, passado em nossa região que você queira registrar?
Marcia Fonseca - Quando os meus amigos Jongueiros vieram do Rio e o Anderson, Lazir e Cátia do Jongo da Serrinha vieram para o “IITAMBORES DOS ANJOS” em junho de 2011, e em Arraial do Cabo.

   
Afrolagos -  Que ações poderiam ser executadas na região para a preservação deste patrimônio cultural que é o Jongo?
Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiar atividades ligadas ao Jongo nas redondezas, e é isso que é difícil. Falo por que as pessoas se deslocam pouco por aqui. Dizem que adoram o Jongo, mas não aparecem. Pessoas que conheçam os cantos, percussão, as danças... a TRADIÇÃO e a HISTÓRIA do Jongo. O Jongo não se aprende de um dia pro outro, o Jongo é muito mais que dança, percussão, canto... É um compromisso de respeito aos nossos “mais velhos”, é um compromisso com as raízes africanas,... não vejo esse compromisso por aqui... e compromisso não se aprende! Assim como não conheço pesquisas nessa área, relacionados à Região dos Lagos, principalmente Cabo Frio e Arraial do Cabo. Existem indícios que em tempos passados, tinha Jongo nos quilombos, mas esses perderam a sua memória... Recuperar a memória e difundir, são ações essenciais!

Afrolagos -  Todo o preconceito contra as manifestações culturais de origem africana também atingem o Jongo?
Marcia Fonseca - Sim, com certeza! Em muitos lugares a cultura de raiz africana é condenada, não reconhecida pelos próprios negros. Na maioria das vezes é chamado de “macumba” (pejorativamente)... em muitos lugares da região existe a prática de “ditadura religiosa” por parte de muitos “evangélicos”... Vivi-se uma verdadeira perseguição por tudo que não for “gospel”, uma espécie de caça às bruxas... rsrs. Sinto-me assim na minha prática docente diariamente, mesmo com a lei 10639/2003, em relação às disciplinas Capoeira e Danças populares brasileiras, que são condenadas por responsáveis de alunos junto com seus líderes religiosos; e sempre pelos mesmos motivos: “Que não pode fazer as aulas por que são da igreja”; “Porque a missionária disse que não era pra fazer”; “Porque o pastor disse pra não fazer”, “Que não é de Deus as nossas danças populares”, etc.  


Afrolagos - Qual a mensagem de Márcia Fonseca para a Comunidade AfroLagos?
Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiar atividades ligadas à cultura popular brasileira, com ênfase na raiz africana, afro brasileiras como o Jongo, Coco, Maracatu, Samba, Samba de roda, Tambor de criola, enfim ações nas atividades de afirmação como mostra de filmes, concurso de beleza, um combate mais ostensivo à discriminação e preconceito étnico racial, sua cultura sua história.


Entrevista concedida ao Jornal AFROLAGOS  em Julho de 2011 
Fotos: Acervo Griot

O Jongo irmanando e congregando as comunidades





Editorial da Edição nº 1

Fazer o melhor que podemos não é o suficiente para nós.
Em geral percebemos isto ainda cedo e tentando encontrar um caminho cada vez mais firme para este entendimento vamos deixando cada vez mais evidenciado o sentimento de que nada será o bastante em momento algum.
Muito embora tenhamos como alento os ensinamentos derivados das práticas religiosas que professamos, quer seja na matriz  africana preservada por sua oralidade:
            O TEMPO DÁ, O TEMPO TIRA, O TEMPO PASSA E A FOLHA VIRA.”
Ou, naquela que aprendemos a conhecer através do processo de colonização, de matriz ocidental cristã, escrita nos livros bíblicos com  em Eclesiastes 3:01: 
         TUDO TEM O SEU TEMPO DETERMINADO, E HÁ TEMPO PARA TODO O PROPÓSITO DEBAIXO DO CÉU.”
Muitas vezes deixamos nos conduzir pela sensação de que ainda não nos firmamos como nação por ceder aos impulsos estabelecido a partir daquilo que separa e que alimenta diariamente o ódio e as intolerâncias, não somente da sociedade excludente e um única cor, mas também pela ambição e sede de ocuparmos os poucos lugares destinados a nós, mesmo em detrimento das conquistas sociais mais permanentes que os novos discursos acadêmicos estabeleceram como políticas pública.
Ouvir é uma das formas de transmitir e reproduzir pensamentos e conhecimento vindos de muito longe reafirmam as verdades verticais sobre o tempo e sua perseverante maneira de demonstrar a circularidade presente no âmago de todas as nossas ações.
Então voltamos ao início de tudo, apresentando a força e a luta das mulheres negras em nossa sociedade, cujo trabalho incansável amamentou, criou e educou; limpou, cuidou e preservou; rezou, zelou e dignificou a filosofia, a cultura e as pessoas que delas se serviram, precisaram, usaram, abusaram e a seguir desqualificaram em um poderoso processo de violência, invisibilidade e negação de direitos.
Ainda que o Tempo possa corrigir distorções e injustiças, homenagens póstumas precisam ser cada vez mais raras, porque as verdadeiras homenagens precisam ser feitas agora, por são o verdadeiro PRESENTE.
Assim  o JORNAL AFRO-LAGOS pretende contribuir, trazendo sempre INFORMAÇÃO, POLÍTICA e TRANSFORMAÇÃO a pessoas que tradicionalmente não são o público alvo de todas as outras mídias: você!



terça-feira, 16 de dezembro de 2014

ENCONTROS DE CULTURA BLACK

Em uma iniciativa do Comunidade Afrolagos e do Griot - Pesquisa, Difusão, Memória e Tradição em Cultura Popular, em parceria com ativistas e produtores e produtoras culturais afrobrasileiras está acontecendo em Cabo Frio, no Boulevard Lanches, nos dias 10 de cada mês a NOITE BLACK 10.

Um onde o objetivo principal é um encontro para a divulgação de música, arte, cultura, poesia, teatro e danças e artistas da negritude de nossa Região. Uma reunião de todas as tribos em uma cultura de paz e união.

Para apresentar seu trabalho, basta agendar com a  produção do evento apresentando uma resumo de sua proposta.  

Todos e todas serão bem vindos.