Os povos de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana,
vivem um momento de extrema tensão social, criada pelo fenômeno histórico da
“intolerância religiosa” que deflagram conflitos entre membros de denominações religiosas “neo petencostais” e
os praticantes dessas religiões. Perseguição e agressões muitas vezes
impulsionada por uma mídia agressiva em
relação as praticas religiosas afro-brasileiras, orisás e entidades cultuadas
nas casas de santo ou Asés tem sido
observadas em crescente ascensão.
Com isto, governo e sociedade civil, através dos Movimentos
Negros, passaram a dialogar exaustivamente sobre as formas de construção de uma
rede de proteção ao direito desses povos exercerem sua liberdade de culto e
crença, sem serem ofendidos ou discriminados.
Não obstante, entender o que possibilitou a resistência de
práticas, rituais e ensinamentos desses povos e comunidades religiosas, não se
encontra em livros e materiais escritos, muito embora haja nos dias atuais uma
farta oferta de documentários, livros, revistas e imagens sobre as diversas
religiões de matriz africana. Programas sobre a fé e práticas religiosas exibem
belas imagens. Muitas delas têm nas memórias religiosas dos povos africanos que
foram trazidos para Brasil durante o tráfico transatlântico seu ponto de
convergência.
Mas o mundo globalizado alterou formas de educar filhos,
ensinar nas escolas, construir relações sociais e estabelecer a diplomacia no
universo da política internacional, mas nos terreiros de candomblé, foco de
nosso trabalho, o tempo não existe, valores econômicos e sociais externos não
importam e o respeito aos mais velhos, seu saber e conhecimento é o maior
tesouro.
É o awô. O segredo, o mistério. O que não pode ser aprendido
senão pela prática e pelo saber oral, transmitido por aqueles que o detém e o
aprenderam da mesma forma: pelos mais velhos.
Em uma sociedade descartável, efêmera e preocupada com a
permanente atualização por novas tecnologias e aprendizados, em que os mais
velhos são destinados ao não fazer da aposentadoria, não por defasagem do saber
e ineficácia das experiências vividas, mas por necessidade de abrir espaços
para os mais novos, conhecer, entender e refletir sobre os povos que valorizam
o saber ancestral transmitido oralmente e perpetuado ao longo dos séculos é
valorizar todo o processo vivenciado pela a humanidade até os dias atuais.
Imaginar que todo o conhecimento da humanidade pode ser
apagado por interesses e espionagens, para preservar o poder da dominação de
alguns países é perceber que de nada nos adiantará tanta pressa, compromissos e
horários. Somos apenas peças descartáveis de uma grande engrenagem global.
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