Publicado no Jornal AFROLAGOS de Julho/Agosto de 2011
No dia vinte e cinco de
julho do corrente ano fui convidado pela Doutora Margareth Ferreira, da SUPIR -
Superintendência de Igualdade Racial da Prefeitura de Cabo Frio para participar
da solenidade comemorativa do Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha,
na Câmara de Vereadores, reafirmando o seu compromisso com a política de
gênero, raça e etnia e com os direitos humanos. Nesse evento homenagearam-se
várias mulheres negras com relevantes serviços prestados à comunidade de nosso
município, representantes de diversos segmentos de nossa Sociedade Civil Organizada.
Casa cheia; plenária diversificada de gênero, raça, credo, pluri partidária,
autoridades do executivo e do legislativo. Gente do povo, portadores de
necessidades especiais, faixa etária variada, um estrondoso sucesso.
A solenidade transcorreu em
um clima de amena fraternidade, mesmo quando as homenageadas em suas
intervenções destacavam as humilhações, preconceitos, discriminações e as agressões
que sofreram ao longo de suas vidas pelo simples fato de terem nascido negras.
Cada discurso uma história, cada história uma emoção; umas mais emocionantes
que as outras, uma verdadeira lição de vida. Plateia visivelmente emocionada,
lágrimas sorrateiras eram discretamente enxugadas. Uma noite para ficar
registrada nos anais da história política de nossa cidade.
Mas como nem tudo são
flores, para participarmos desse maravilhoso evento tivemos que enfrentar e vencer
alguns espinhosos obstáculos: logo na
entrada ultrapassar um estreito corredor (decorado com belíssimos quadros); o
que dificulta a locomoção. Depois uma escada larga e íngreme, quase vertical de
degraus curtos (um perigo que representa
risco eminente para os visitantes), para finalmente chegar ao plenário. O
setor destinado ao povo é acanhado, apertado, com pouquíssimos e
desconfortáveis corrediços bancos de madeira. Para se usar o banheiro é necessário transpor
um degrau de uns vinte centímetros, e com um único sanitário. Ou seja, se para as pessoas que não precisam
de atenções especiais já é um tormento, imagina-se o transtorno que é para os
idosos e portadores de necessidades especiais participar dessa verdadeira
caminhada de obstáculos.
Será que todos esses
obstáculos são para evitar o acesso do povo? E então indagamos:
Por que na casa do povo, o povo tem
dificuldade de adentrar?
Coluna AfroTamoios
Fernando Campos, morador de Tamoios e Ativista dos Direitos Humanos.
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