quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Marcia Fonseca, Professora de Dança e Fundadora do Griot

De todos os ritmos oriundos e difundidos pela comunidade afrodescendente, o Jongo é o que trás características mais marcantes e identidade indelével. A coluna aborda o tema dando foco a uma personagem marcante de nossa região. Profissional da área de educação e expoente cultural, Márcia Fonseca foi rebatizada pela sua militância e hoje o AfroSom tem a honra de entrevistar Márcia do Jongo.
Márcia do Jongo em um vicênvia Griot
Afrolagos -  Para Marcia Fonseca, o que é o Jongo?
Marcia Fonseca -É uma forma de culto aos meus, aos nossos antepassados.

Afrolagos - Como o Jongo surgiu na sua vida?                                           
Marcia Fonseca - Comecei desde pequena, por incrível que pareça... fiz balé clássico durante muito tempo, curso profissionalizante, e neste curso havia muitas disciplinas, uma delas era folclore nacional prático e teórico, outra como o  Afro (contemporâneo e de orixá). Foi aí que eu entrei em contato com a cultura brasileira, e me identifiquei com a cultura afro. Conheci o jongo e outras danças e amei !!! Os anos passaram e eu fui para a faculdade de educação física (UFRRJ), tive contato com vários grupos de danças folclóricas e de cultura popular nas minhas andanças acadêmicas... como sou carioca, nascida e “vivida” no Rio, tive a oportunidade de conhecer o mestre Darci, comecei a escutar muita coisa de samba, onde o Jongo ou Caxambu é sempre lembrado. Foi quando eu conheci uma galera do Jongo da Serrinha/Grupo Brasil Mestiço e o Pau da Graúna... e com eles o Jongo, Lundu, Ciranda, Coco, etc.

Afrolagos -   Qual a importância do Jongo na sua história?
Marcia Fonseca - Foi o despertar para várias questões... questões inerentes ao UNIVERSO do Jongo. Fatores históricos, sociais, econômicos, políticos, e por que não dizer, espirituais, importantes para o meu crescimento pessoal e profissional. Uma fonte muito rica de conhecimento que proporciona muita satisfação profissional, ensinando e difundindo-o na rede pública de ensino de Cabo frio, e em Arraial do Cabo com o projeto GRIOT. Entre as diversas manifestações tradicionais, o Jongo é o que mais me sensibiliza, o que mais me faz transcender... Esses fatores mudaram meu rumo profissional, minha história...

Afrolagos -  Em nossa região, como vem sendo tratado o Jongo?
Marcia Fonseca - Poucas pessoas conhecem o Jongo... e na Região dos Lagos menos ainda... Falta TRADIÇÃO. Faltam grupos de Jongo, faltam rodas de Jongo, faltam pesquisas em história do negro na região, suas tradições, costumes, manifestações, etc.  


AfroSom -  Existe algum fato marcante na sua relação com o Jongo, passado em nossa região que você queira registrar?
Marcia Fonseca - Quando os meus amigos Jongueiros vieram do Rio e o Anderson, Lazir e Cátia do Jongo da Serrinha vieram para o “IITAMBORES DOS ANJOS” em junho de 2011, e em Arraial do Cabo.

   
Afrolagos -  Que ações poderiam ser executadas na região para a preservação deste patrimônio cultural que é o Jongo?
Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiar atividades ligadas ao Jongo nas redondezas, e é isso que é difícil. Falo por que as pessoas se deslocam pouco por aqui. Dizem que adoram o Jongo, mas não aparecem. Pessoas que conheçam os cantos, percussão, as danças... a TRADIÇÃO e a HISTÓRIA do Jongo. O Jongo não se aprende de um dia pro outro, o Jongo é muito mais que dança, percussão, canto... É um compromisso de respeito aos nossos “mais velhos”, é um compromisso com as raízes africanas,... não vejo esse compromisso por aqui... e compromisso não se aprende! Assim como não conheço pesquisas nessa área, relacionados à Região dos Lagos, principalmente Cabo Frio e Arraial do Cabo. Existem indícios que em tempos passados, tinha Jongo nos quilombos, mas esses perderam a sua memória... Recuperar a memória e difundir, são ações essenciais!

Afrolagos -  Todo o preconceito contra as manifestações culturais de origem africana também atingem o Jongo?
Marcia Fonseca - Sim, com certeza! Em muitos lugares a cultura de raiz africana é condenada, não reconhecida pelos próprios negros. Na maioria das vezes é chamado de “macumba” (pejorativamente)... em muitos lugares da região existe a prática de “ditadura religiosa” por parte de muitos “evangélicos”... Vivi-se uma verdadeira perseguição por tudo que não for “gospel”, uma espécie de caça às bruxas... rsrs. Sinto-me assim na minha prática docente diariamente, mesmo com a lei 10639/2003, em relação às disciplinas Capoeira e Danças populares brasileiras, que são condenadas por responsáveis de alunos junto com seus líderes religiosos; e sempre pelos mesmos motivos: “Que não pode fazer as aulas por que são da igreja”; “Porque a missionária disse que não era pra fazer”; “Porque o pastor disse pra não fazer”, “Que não é de Deus as nossas danças populares”, etc.  


Afrolagos - Qual a mensagem de Márcia Fonseca para a Comunidade AfroLagos?
Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiar atividades ligadas à cultura popular brasileira, com ênfase na raiz africana, afro brasileiras como o Jongo, Coco, Maracatu, Samba, Samba de roda, Tambor de criola, enfim ações nas atividades de afirmação como mostra de filmes, concurso de beleza, um combate mais ostensivo à discriminação e preconceito étnico racial, sua cultura sua história.


Entrevista concedida ao Jornal AFROLAGOS  em Julho de 2011 
Fotos: Acervo Griot

O Jongo irmanando e congregando as comunidades





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