quarta-feira, 29 de junho de 2011

Teatro Negro

Um grande líder nunca morre

Na Serra da Barriga, onde ficou consagrada a luta e a resistência do povo negro, no Quilombo de Palmares. É... bem ali, deveriam ser depositadas as cinzas de todos os nossos líderes, heróis e heroínas de nossa trajetória por este Brasil que ainda não nos trata com o devido respeito e não nos permite ocupar os espaços que a nós caberiam em face da contribuição a sua construção.


E os Quilombos foram se multiplicando no Brasil inteiro e muito desse árduo trabalho se deu pelas mãos, pés, tronco e cabeça de ABDIAS NASCIMENTO (14/03/1914-23/05/2011). O Senador Abdias, a quem tive a honra de conhecer pessoalmente em sua visita a Cabo Frio, na comitiva do então candidato a Governador Leonel Brizola, no ano de 1982, quando meu pai, Plinio Ferreira, foi candidato a prefeito pelo partido do nosso querido líder negro. 

Os verbetes sobre o jornalista ABDIAS NASCIMENTO, criador do Teatro Experimental do Negro são inúmeros e extensos nas enciclopédias que nós escrevemos. Os orixás pintados pelo artista plástico, emolduram diversos espaços culturais no Brasil e no mundo. O conhecimento e o pensamento produzido ao longo de sua trajetória, parte dela ao lado da mulher, Dra. Eliza Larkin Nascimento, ajudaram a estruturar nossa própria produção acadêmica.

Quando uma liderança afro-descendente como ABDIAS NASCIMENTO é conduzida ao orum, é também elevada a condição de ancestral de toda a comunidade e não somente dos membros de sua família. Em sua imensa percepção de sua importância para a nossa luta por liberdade, permitiu nas suas disposições de vontade, que suas cinzas fossem depositadas no solo sagrado da Serra da Barriga.

Será no dia 13 de novembro de 2011, em uma solenidade que a ser realizada com a presença maciça de negros e negras da diáspora, e também de personalidades da luta anti-racista.

E muitas homenagens serão feitas: um baobá e também um iròkò serão plantados; cantaremos e rezaremos em nossos idiomas ancestrais; dançaremos as nossas danças de fé; e,  a força de ABDIAS NASCIMENTO se perpetuará para nos ajudar na construção de um pensamento cada vez menos beligerante, menos fragmentado e muito mais agregador, unificador e pacificador de nossas próprias divergências. 

Quando nascia o pensamento por uma mídia étnica regional, já tínhamos no  jornalista ABDIAS NASCIMENTO nosso homenageado do número zero.  Não imaginávamos que seria póstuma. A homenagem é a reprodução de um de seus trabalhos: a primeira página do número 5 do “Jornal Quilombo” em seu segundo ano de edição, de 1950, ou seja há 61(sessenta) e um anos.

Ao lermos o Editorial que fala sobre a realização do “1º Congresso do Negro Brasileiro”  e as várias notícias então veiculadas, nos deparamos com textos tão atuais que percebemos  o quanto ainda precisamos caminhar, mas agora com veículos mais velozes do que os nossos próprios pés.

Não dá mais para seguirmos a pé, precisamos das Políticas Públicas eficazes e efetivas como meios de transporte para percorrermos a distância que ainda nos separa dos lugares onde realmente merecemos e devemos estar.

Em homenagem ao nosso saudoso líder e reproduzindo aqui suas palavras, naquela edição do “Quilombo” lamenta o desaparecimento de Arthur Ramos, vale dizer que ABDIAS NASCIMENTO ao nos deixar “abriu um desses claros impreenchíveis em nossa cultura”.

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial prestou última homenagem ao grande líder

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro lançou a 1ª edição do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento. O prêmio é fruto da iniciativa da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio), marca atividades relativas ao Ano Internacional dos Afrodescendentes declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e visa estimular anualmente a cobertura jornalística qualificada sobre temas relacionados à população negra.

O Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento contemplará sete categorias: mídia impressa; televisão; rádio; mídia alternativa ou comunitária; fotografia; Internet; e categoria especial de gênero, com destaque para as reportagens com foco nas demandas femininas. A melhor reportagem de cada categoria receberá o prêmio de R$ 5.000,00. Os vencedores serão anunciados em uma grande festa que ocorrerá em novembro, mês de comemoração da Consciência Negra.

2 comentários:

  1. Belíssimo artigo em homenagem ao nosso grande líder, Dra. Margareth!
    Meus parabéns para todo expediente do Jornal Afro-Lagos e para elegante festa de lançamento!
    Encerro com um poema da Conceição Evaristo, maior expressão da literatura afro-brasileira contemporânea, em homenagem póstuma ao Abdias Nascimento.
    Meu grande abraço,
    Ricardo Riso

    DIAS DE KIZOMBA
    Ab(dias) de lutas e não dias de luto.
    Um homem como Abdias,
    estrela incandescente,
    não morre.
    A sua luz
    cor negra zagaia
    feriu a branca inconsciência
    de uma democracia racial
    nula e vil.
    Um homem como Abdias,
    estrela Nascimento,
    Zumbi eternizado,
    não morre.
    A sua luta
    ziguezagueia
    d'África à diáspora
    espalhando sementes baobás
    em cada uma/um de nós.
    Conceição Evaristo
    Maio de 2011

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  2. Que ele viva pra sempre através de todos os seus ensinamentos.

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