segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O Movimento Negro, o Ministério de Promoção da Igualdade Racial e o Sábio

A circulação de informações sobre a posse da nova ministra de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Dra. Nilma Lino Gomes, e o papel que deverá desempenhar no novo governo da Presidenta Dilma, me fez pensar que essa cadeiras onde obrigatoriamente devemos desenvolver a política dos sonhos para uma exigente camada da população brasileira.
Além disto, a  nova Ministra é uma acadêmica e não circula muito no eixo Rio-São Paulo e isto praticamente a deixa fora dos holofotes.

As conversas sobre ela, acabam sempre na história do parecer do CNE onde analisou denúncia contra o livro “Caçadas de Pedrinho”. Os documentos estão em PDF na internet e são de leitura fácil para qualquer pessoa de bem, mas embora sejam dois pareceres, um de 2010 e outro de 2011, ambos se completam e não oferecem risco algum a obra de Monteiro Lobato, senão um trabalho diferenciado, com críticas sobre as diversas situações de racismo explicito registrados no livro.



A Dra. Nilma Lino, já era admirada por muitas de nós,  por causa de sua pesquisa realizada nos salões de beleza de Belo horizonte, sobre a estética das mulheres negras e a representação do cabelo negro, contribuindo para o despertar de muitas jovens negras e a valorização de nossos cabelos, neste universo de chapinhas e escovas marroquinas e progressivas.

Infelizmente, ainda não aprendemos a nos amar, entender e respeitar a ponto de não avaliarmos o  que as redes sociais e suas deselegantes falas explicitas fazem com a imagem de nossas lideranças. Os aparatos de buscas de textos e fotos permitem que qualquer pessoa, seja ela membro de alguma organização racista ou uma menina querendo orientação sobre relações raciais, ter acesso a comentários cínicos e sem robustez sobre as probabilidade de nossa Ministra realiza este ou aquele trabalho de maneira competente.

Exercer ou ser indicada para o cargo almejado por diversos negros e negras no país, muitos até sem as qualidades da Dra. Nilma, é passar da confortável posição de uma qualificada pensadora brasileira, para o alvo principal de recalcados e incansáveis opositores de quem quer que sente naquela cadeira.
Com isto vamos sendo campeões e derrubar em vez de construir, perdendo nossos melhores representantes em assembleias e câmaras legislativas enquanto vemos os espólios políticos dos coronéis eleger pais, filhos, sobrinhos e quem mais vier com os mesmos laços de consaguineidade, para onde quiserem.
Ou somos mais equilibrados em nossas críticas aos nossos pares, ou seremos sempre como crianças tolas querendo fingir esperteza até que um dia perceberemos que somos apenas como aquelas meninas céticas que não entendiam que a decisão é sempre nossa e está em nossas mãos, como em O Sábio e a Borboleta:

“Havia um pai que morava com as suas duas jovens filhas, umas meninas muito curiosas e inteligentes. Elas sempre faziam muitas perguntas. Algumas,  ele  sabia  responder.  Outras,  não  fazia  a  mínima  ideia  da  resposta. Como lhes pretendia oferecer a melhor educação, mandou-as passar as férias com um velho sábio que morava no alto de uma colina. Este, por sua vez, respondia a todas as perguntas sem hesitar. Já  muito  impacientes  com  a  situação,  pois  constataram  que  o  tal  velho  era realmente sábio, resolveram inventar uma pergunta que ele não soubesse. Passaram-se  alguns  dias  e  uma  das  meninas  apareceu  com  uma  linda borboleta azul e exclamou para a sua irmã: ‘Desta vez o sábio não vai saber a resposta!’.  ‘O  que  vais  fazer?’,  perguntou  a  outra  menina.  ‘Tenho  uma borboleta azul nas minhas mãos. Vou perguntar ao sábio se a borboleta está viva ou morta. Se ele disser que ela está morta, vou abrir as minhas mãos e deixá-la voar para o céu. Se ele disser que ela está viva, vou apertá-la rapidamente, esmagá-la e, assim, matá-la. Como consequência, qualquer resposta que o velho nos der vai estar errada.’  As duas meninas foram, então, ao encontro do sábio, que estava a meditar sob um eucalipto na montanha. A menina aproximou-se e perguntou se a borboleta na  sua  mão  estava  viva  ou  morta.  Calmamente,  o  sábio  sorriu  e  respondeu: ‘Depende de ti. Ela está nas tuas mãos.’



Pois bem, tudo depende de nós para encontrarmos um caminho de entendimento e fortalecimento de nossa luta anti racista.

Fonte; Parecer CNE 05/2010 e 06/2011 

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