A circulação de informações
sobre a posse da nova ministra de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Dra.
Nilma Lino Gomes, e o papel que deverá desempenhar no novo governo da
Presidenta Dilma, me fez pensar que essa cadeiras onde obrigatoriamente devemos
desenvolver a política dos sonhos para uma exigente camada da população
brasileira.
Além disto, a nova Ministra é uma acadêmica e não circula
muito no eixo Rio-São Paulo e isto praticamente a deixa fora dos
holofotes.
As conversas sobre ela, acabam
sempre na história do parecer do CNE onde analisou denúncia contra o livro “Caçadas
de Pedrinho”. Os documentos estão em PDF na internet e são de leitura fácil
para qualquer pessoa de bem, mas embora sejam dois pareceres, um de 2010 e
outro de 2011, ambos se completam e não oferecem risco algum a obra de Monteiro
Lobato, senão um trabalho diferenciado, com críticas sobre as diversas situações
de racismo explicito registrados no livro.
A Dra. Nilma Lino, já era admirada
por muitas de nós, por causa de sua
pesquisa realizada nos salões de beleza de Belo horizonte, sobre a estética das
mulheres negras e a representação do cabelo negro, contribuindo para o
despertar de muitas jovens negras e a valorização de nossos cabelos, neste
universo de chapinhas e escovas marroquinas e progressivas.
Infelizmente, ainda não
aprendemos a nos amar, entender e respeitar a ponto de não avaliarmos o que as redes sociais e suas deselegantes falas
explicitas fazem com a imagem de nossas lideranças. Os aparatos de buscas de
textos e fotos permitem que qualquer pessoa, seja ela membro de alguma
organização racista ou uma menina querendo orientação sobre relações raciais,
ter acesso a comentários cínicos e sem robustez sobre as probabilidade de nossa
Ministra realiza este ou aquele trabalho de maneira competente.
Exercer ou ser indicada para o
cargo almejado por diversos negros e negras no país, muitos até sem as
qualidades da Dra. Nilma, é passar da confortável posição de uma qualificada
pensadora brasileira, para o alvo principal de recalcados e incansáveis
opositores de quem quer que sente naquela cadeira.
Com isto vamos sendo campeões
e derrubar em vez de construir, perdendo nossos melhores representantes em
assembleias e câmaras legislativas enquanto vemos os espólios políticos dos
coronéis eleger pais, filhos, sobrinhos e quem mais vier com os mesmos laços de
consaguineidade, para onde quiserem.
Ou somos mais equilibrados em
nossas críticas aos nossos pares, ou seremos sempre como crianças tolas
querendo fingir esperteza até que um dia perceberemos que somos apenas como
aquelas meninas céticas que não entendiam que a decisão é sempre nossa e está
em nossas mãos, como em O Sábio e a Borboleta:
“Havia um pai que morava com as suas
duas jovens filhas, umas meninas muito curiosas e inteligentes. Elas sempre
faziam muitas perguntas. Algumas,
ele sabia responder.
Outras, não fazia
a mínima ideia
da resposta. Como lhes pretendia
oferecer a melhor educação, mandou-as passar as férias com um velho sábio que
morava no alto de uma colina. Este, por sua vez, respondia a todas as perguntas
sem hesitar. Já muito impacientes
com a situação,
pois constataram que
o tal velho
era realmente sábio, resolveram inventar uma pergunta que ele não
soubesse. Passaram-se alguns dias
e uma das
meninas apareceu com
uma linda borboleta azul e
exclamou para a sua irmã: ‘Desta vez o sábio não vai saber a resposta!’. ‘O
que vais fazer?’,
perguntou a outra
menina. ‘Tenho uma borboleta azul nas minhas mãos. Vou
perguntar ao sábio se a borboleta está viva ou morta. Se ele disser que ela está
morta, vou abrir as minhas mãos e deixá-la voar para o céu. Se ele disser que
ela está viva, vou apertá-la rapidamente, esmagá-la e, assim, matá-la. Como
consequência, qualquer resposta que o velho nos der vai estar errada.’ As duas meninas foram, então, ao encontro do
sábio, que estava a meditar sob um eucalipto na montanha. A menina aproximou-se
e perguntou se a borboleta na sua mão
estava viva ou
morta. Calmamente, o
sábio sorriu e
respondeu: ‘Depende de ti. Ela está nas tuas mãos.’
Pois bem, tudo depende de nós
para encontrarmos um caminho de entendimento e fortalecimento de nossa luta
anti racista.
Fonte; Parecer CNE 05/2010 e 06/2011
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