quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Religião se discute? - Colunista Moisés Oliveira *

Às vezes fico alarmado com determinadas idéias e mesmo conclusões de boa parte do povo brasileiro em relação a um assunto. Uma das conclusões do senso comum que mais me chateiam é aquela que diz e ATÉ AFIRMA, ou seja, tem como verdade, que “religião não se discute”! Ouço e leio esta “máxima” do populacho quase todos os dias, até por um motivo óbvio; trabalho com a problemática da religião e da religiosidade também quase todos os dias. Seja em sala de aula, nas redes sociais, em palestras, conversas informais ou mesmo dentro de um determinado lugar específico para a prática do comungar. Mas na verdade o que temos por trás deste discurso? Como entender a motivação do não QUERER ou do não PODER discutir um assunto que necessariamente e quase que fatalmente estará na mentalidade de todo brasileiro?
Religião não se discute!”
 Atrás deste discurso que aparenta ser uma fala inocente e que para os desavisados passa um tom de preocupação e de conformidade a aceitação da fé do outro; o que na verdade estará implícito é o contrário. É um discurso usado para legitimar um pensamento que não se deixa ou não se PERMITE entender e aceitar a forma diferenciada de como o outro enxerga  o “plano espiritual”. Ao dizer “religião não se discute”, estará ali a ideia de finalidade do assunto. Estará ali O não QUERER  o diálogo, a negação a dialética, a troca de informação, a não abertura mental ...  Estará ali a louvação de uma  ideia unicista da verdade que é plural e a aceitação solipsista mental em relação a um tema que se revela a cada dia munido de uma complexificação inesgotável. Quando não queremos discutir algo, perdemos a chance, que talvez possa ser única, de se encontrar com o outro. Agora, quais serão os verdadeiros motivos que levam  uma pessoa a OPTAR pelo não querer discutir este tema? Entre os diversos motivos quero destacar um, o MEDO.
 Medo de se deparar com outra crença que possa ser melhor  e mais adequada as suas ânsias espirituais. Medo de descobrir que foi enganado talvez anos e  anos por uma forma errônea de perceber o mundo espiritualizado.  Medo de descobrir-se ludibriado por um líder inescrupuloso.  Medo de ter que enfrentar o vazio provocado pela descoberta de outra verdade. MEDO.
Além do não querer discutir o tema, que se revela opcional, tem ainda aqueles que estarão interditados do debate, pelo NÃO PODER que tem por base a alienação.  É sabido por todos que a religião, como bem escreveu Marx, pode sim ser o “ópio do povo”.  Esta é, na minha concepção, a segunda causa que leva uma pessoa a não debater sobre o assunto. São estes que estarão proibidos pela alienação e\ou pela castração, produzida na maioria das vezes por seus líderes religiosos mal intencionados ou pelo uso inadequado e aplicado de textos escriturísticos interpretados sem um conhecimento técnico e hermenêutico, já que boa parte das religiões fazem uso de algum “texto sagrado”. A alienação religiosa é uma das principais causas da intolerância religiosa. Pois todo intolerante é um ignorante, logo, alienado.

Como não discutir religião? O Brasil é constituído por “crentes”. O “Achamento”  do País pelos europeus se confunde com o processo de Contra Reforma Católica que visava a busca por novos adeptos e reconquista dos desgarrados ou desviados da religião. Somos um país que acreditamos na força divinal e que com isto, “pagamos promessas”, ofertamos, fazemos profissões, somos abençoados pelos orixás, andamos com guias, praticamos rituais, cantamos hinos e mandingas e nos religamos a uma força, que entendemos ser maior.   Religião não poderia causar temor e nem tremor ao ser debatida, em especial nas salas de aulas.
Este tema deve ser sim debatido e quanto mais debatido melhor. A arma que temos para a anulação do MEDO (injustificado) e da ALIENAÇÃO  é exatamente o debate, a conversa, o confronto de idéias sobre o tema.

* Moisés Oliveira

Leciona História, Filosofia e Sociologia.
Formado em História e Ciências Sociais e com Especialização nas áreas de Filosofia, Sociologia e História das Religiões.
Coordenador do Curso de Pós Graduação em História das Religiões e Filosofia pela Faculdade Redentor.
Coordenador do Projeto R12
contato: moisesporto1@hotmail.com 


Um comentário:

  1. Parabéns pelo excelente texto, aliás como sempre , textos belíssimos e reflexivos... Aliás lemos e debatemos sobre tantas temáticas mas nos limitamos a dialogar sobre este tema , como se fosse aquém a nossa vida !
    Sucesso!

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