Às
vezes fico alarmado com determinadas idéias e mesmo conclusões de boa parte do
povo brasileiro em relação a um assunto. Uma das conclusões do senso comum que
mais me chateiam é aquela que diz e ATÉ AFIRMA, ou seja, tem como verdade, que
“religião não se discute”! Ouço e leio esta “máxima” do populacho quase todos
os dias, até por um motivo óbvio; trabalho com a problemática da religião e da
religiosidade também quase todos os dias. Seja em sala de aula, nas redes
sociais, em palestras, conversas informais ou mesmo dentro de um determinado
lugar específico para a prática do comungar. Mas na verdade o que temos por
trás deste discurso? Como entender a motivação do não QUERER ou do não PODER
discutir um assunto que necessariamente e quase que fatalmente estará na
mentalidade de todo brasileiro?
Religião
não se discute!”
Atrás deste discurso que aparenta ser uma fala
inocente e que para os desavisados passa um tom de preocupação e de
conformidade a aceitação da fé do outro; o que na verdade estará implícito é o
contrário. É um discurso usado para legitimar um pensamento que não se deixa ou
não se PERMITE entender e aceitar a forma diferenciada de como o outro
enxerga o “plano espiritual”. Ao dizer
“religião não se discute”, estará ali a ideia de finalidade do assunto. Estará
ali O não QUERER o diálogo, a negação a
dialética, a troca de informação, a não abertura mental ... Estará ali a louvação de uma ideia unicista da verdade que é plural e a
aceitação solipsista mental em relação a um tema que se revela a cada dia
munido de uma complexificação inesgotável. Quando não queremos discutir algo,
perdemos a chance, que talvez possa ser única, de se encontrar com o outro.
Agora, quais serão os verdadeiros motivos que levam uma pessoa a OPTAR pelo não querer discutir
este tema? Entre os diversos motivos quero destacar um, o MEDO.
Medo de se deparar com outra crença que possa
ser melhor e mais adequada as suas
ânsias espirituais. Medo de descobrir que foi enganado talvez anos e anos por uma forma errônea de perceber o
mundo espiritualizado. Medo de
descobrir-se ludibriado por um líder inescrupuloso. Medo de ter que enfrentar o vazio provocado
pela descoberta de outra verdade. MEDO.
Além
do não querer discutir o tema, que se revela opcional, tem ainda aqueles que
estarão interditados do debate, pelo NÃO PODER que tem por base a
alienação. É sabido por todos que a
religião, como bem escreveu Marx, pode sim ser o “ópio do povo”. Esta é, na minha concepção, a segunda causa
que leva uma pessoa a não debater sobre o assunto. São estes que estarão
proibidos pela alienação e\ou pela castração, produzida na maioria das vezes
por seus líderes religiosos mal intencionados ou pelo uso inadequado e aplicado
de textos escriturísticos interpretados sem um conhecimento técnico e
hermenêutico, já que boa parte das religiões fazem uso de algum “texto
sagrado”. A alienação religiosa é uma das principais causas da intolerância
religiosa. Pois todo intolerante é um ignorante, logo, alienado.
Como
não discutir religião? O Brasil é constituído por “crentes”. O “Achamento” do País pelos europeus se confunde com o
processo de Contra Reforma Católica que visava a busca por novos adeptos e
reconquista dos desgarrados ou desviados da religião. Somos um país que
acreditamos na força divinal e que com isto, “pagamos promessas”, ofertamos,
fazemos profissões, somos abençoados pelos orixás, andamos com guias,
praticamos rituais, cantamos hinos e mandingas e nos religamos a uma força, que
entendemos ser maior. Religião não
poderia causar temor e nem tremor ao ser debatida, em especial nas salas de
aulas.
Este
tema deve ser sim debatido e quanto mais debatido melhor. A arma que temos para
a anulação do MEDO (injustificado) e da ALIENAÇÃO é exatamente o debate, a conversa, o
confronto de idéias sobre o tema.
* Moisés Oliveira
Leciona História,
Filosofia e Sociologia.
Formado em História e
Ciências Sociais e com Especialização nas áreas de Filosofia, Sociologia e
História das Religiões.
Coordenador do Curso
de Pós Graduação em História das Religiões e Filosofia pela Faculdade Redentor.
Coordenador do
Projeto R12
contato: moisesporto1@hotmail.com
Parabéns pelo excelente texto, aliás como sempre , textos belíssimos e reflexivos... Aliás lemos e debatemos sobre tantas temáticas mas nos limitamos a dialogar sobre este tema , como se fosse aquém a nossa vida !
ResponderExcluirSucesso!